Você está aqui: Página Inicial > Notícias > 2014 > Abril > Ministro Roberto Barroso defende ativismo judicial na abertura de seminário

Ministro Roberto Barroso defende ativismo judicial na abertura de seminário

publicado 24/04/2014 17h15, última modificação 11/06/2015 17h04

Na palestra de abertura do seminário Teoria da Decisão Judicial, realizado na sede do Conselho da Justiça Federal (CJF), nesta quarta-feira (23/4), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Roberto Barroso, defendeu o ativismo judicial e disse que a figura do juiz tradicional está historicamente superada. Segundo o magistrado, cada dia é mais importante que o julgador, ao tomar sua decisão, também observe fatores culturais, sociais e políticos e não apenas a legislação vigente.A mesa da conferência foi presidida pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ricardo Villas Bôas Cueva, coordenador científico do evento.


“As pessoas enxergam o mundo de diferentes pontos de observação. As coisas tem a cor da lente de quem olha. E quem convive com o Direito deve saber que não há verdade plena. A decisão judicial é um ato político, porque é uma escolha, dentro das possibilidades existentes de julgamento. O juiz tem o dever de prover uma solução justa e correta dentro da sua perspectiva. O juiz precisa estar atento aos precedentes, além de zelar pela coerência e integridade. As partes têm direito a juiz isonômico”, explicou o ministro do STF.


Para uma plateia formada por mais de 300 participantes, Roberto Barroso apontou três grandes mudanças de paradigma que revolucionaram o Direito nos últimos anos: a superação do formalismo jurídico, pois antes a lei era a expressão da Justiça; o advento de uma cultura pós-positivista, que aproximou o Direito da filosofia moral e política; e a passagem da Constituição para o centro jurídico, como efeito da publicidade dada ao Direito na atualidade.


“Tudo isso produz um impacto na interpretação jurídica. A vida ficou mais rica, mais complexa e mais plural. Existe uma pluralidade de normas vigentes. Para lidar com esses fatos novos, o Direito Constitucional criou novas categorias. A norma já não traz mais em si a solução do problema e sim apenas o início dela. Os fatos passam a fazer parte da norma. Por isso a argumentação jurídica se tornou tão importante. O Direito perdeu muito da objetividade com a qual saiu do século 20”, contextualizou Roberto Barroso.


Na opinião do ministro, há três causas para o surgimento de casos complexos e difíceis de julgamento nos dias de hoje: a ambiguidade da linguagem jurídica; a existência de desacordos morais razoáveis na sociedade, já que as pessoas pensam de maneira diferente; e a colisão de direitos fundamentais. “Vivemos um fenômeno amplo de judicialização da vida”, completou o palestrante. De acordo com ele, por conta desse contexto, há uma transferência indireta de atribuições dos Poderes Legislativo e Executivo para o Judiciário.


Roberto Barroso também destacou que esse fenômeno resulta da existência de uma Constituição ampla – que normatiza várias questões – e de um sistema de controle em que todos os juízes podem aplicá-la. “A judicialização e um grau moderado de ativismo judicial tem servido positivamente para o nosso país”, afirmou o ministro. Para exemplificar essa situação, ele citou alguns dos casos mais complexos julgados pelo STF nos últimos anos e que resultaram na normatização de questões não previstas na Constituição.
Nesse sentido, o ministro avaliou os julgamentos que colocaram em discussão os seguintes temas: união estável homoafetiva, aborto de anencéfalo, nepotismo, perda de mandato de parlamentar condenado judicialmente, financiamento de campanha política por empresas, entre outros assuntos. “O juiz não cria o Direito. A ideologia do juiz também define a decisão”, concluiu o ministro Roberto Barroso.


Seminário


Promovido pelo Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do CJF, em parceria com a Escola Nacional de Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) e com a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), o seminário Teoria da Decisão Judicial acontece até sexta-feira (25/4), no auditório do CJF. O evento tem o objetivo de propiciar a reflexão sobre a estrutura, a elaboração e o impacto das decisões judiciais e sobre como os operadores do Direito vem tratando as questões que permeiam a construção das decisões judiciais.