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Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso profere palestra no TRF1

publicado 01/03/2011 10h50, última modificação 11/06/2015 17h12

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso proferiu, nesta segunda-feira, dia 28, a palestra “O Brasil no panorama internacional”, a convite da Escola de Magistratura Federal da 1.ª Região (Esmaf). O evento, ocorrido no Plenário do Tribunal, reuniu centenas de pessoas, entre servidores, magistrados e autoridades dos três poderes. Compuseram a mesa o presidente do TRF, desembargador federal Olindo Menezes, o diretor da Esmaf, desembargador federal Carlos Moreira Alves,  e os ministros do Superior Tribunal de Justiça, Aldir Passarinho Junior, e do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello.
 
Ao aceitar o convite, Fernando Henrique integrou-se ao corpo de professores eméritos da Escola de Magistratura Federal, motivo de orgulho para Moreira Alves, que chegou ao TRF por meio do quinto constitucional durante a gestão de FHC. “Hoje é um dia histórico para esta corte”, declarou o magistrado. “Emprestando seu nome e seu saber, Vossa Excelência demonstra a estatura do homem público que é, contribuindo para o aprimoramento dos magistrados da 1.ª Região”. O presidente Olindo Menezes também demonstrou apreço pela visita do ex-chefe do Estado. “É uma honra inaudita receber uma figura tão ilustre, cujo nome dispensa apresentação”, afirmou.
 
Antes de tomar a palavra, Fernando Henrique recebeu o diploma de professor emérito da Esmaf, o certificado de conferencista e uma placa de homenagem, entregues pelo ex-diretor da Escola de Magistratura, desembargador federal Hilton Queiroz.
 
Palestra
 
Ao subir na tribuna, FHC demonstrou, sem presunção, porque é um dos palestrantes mais requisitados do país. Professor de sociologia e relações internacionais reconhecido de canto a canto do planeta, o ex-presidente fez uma explanação do panorama mundial, sob a óptica do capitalismo, da globalização e das relações políticas e sociais. Voltou ao século XVI para contextualizar o atual cenário, que se contrapõe às primeiras conquistas das nações mais fortes, baseadas no poderio militar e bélico.
 
Relembrou a história recente, ao explanar sobre as mudanças ocorridas após a queda do socialismo soviético, vencido pela indústria americana de tecnologia da informação. Fernando Henrique destacou esse momento como um divisor de águas entre a centralização do poder mundial e uma nova fase de abertura política e econômica. “O que nós assistimos foi, não apenas o fim da guerra fria e da bipolaridade, mas a emergência de vários polos”, frisou, ao destacar o crescimento ascendente de nações como Japão, Coreia e China, que hoje ladeia os Estados Unidos na condução de uma nova “ordem mundial”.
 
Para FHC, esse novo cenário, impulsionado pelos avanços tecnológicos que derrubaram barreiras sociais e permitiram a absorção dos meios de comunicação mais modernos, concede uma liberdade sem precedentes para sociedades se expressarem. De quebra, torna mais difícil o “controle da informação”. O reflexo dessa mudança cultural é a substituição da “força” pela “persuasão”, no embate das nações pelo ditame da ordem mundial.
 
O ainda duro regime político chinês vai resistir? O mundo vai caminhar para a concepção de sociedades mais igualitárias nos direitos e no peso frente às grandes potências? Haverá mecanismos efetivos para aplicação de decisões conjuntas entre países? Para essas perguntas, o professor Fernando Henrique afirmou não ter resposta. Reconheceu que o mundo deve gastar pelo menos um século para conseguir adequar-se à nova realidade. Como exemplo, FHC citou os entraves enfrentados para se legitimar o Tribunal Penal Internacional. Mesmo assim, frisou alguns avanços, como a criação de grupos cada vez maiores – G7, G8 e G20 – inseridos nas discussões globais propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a disseminação de temas comuns, como a igualdade racial e a plasticidade religiosa.
 
Brasil
 
Nesse último contexto, o Brasil leva vantagem, na avaliação do ex-chefe de estado. A diversidade étnica, cultural e das religiões, aliada ao recente crescimento econômico que deu à nação o status de país emergente, já nos garante uma boa projeção no cenário internacional. “O Brasil tem condições de exercer uma forte presença global pelos seus valores, por ser capaz de negociar (...), de criar regras que permitam universalizar”, opinou o professor.
 
Fernando Henrique ponderou que, em nosso favor, também pesa o contraponto das três principais preocupações da humanidade: a água, a poluição e o terror atômico. Isso porque o Brasil tem mais de 10% da água consumível do mundo, uma das maiores produções de etanol e a expressa opção de abrir mão da força nuclear, comprovada em acordo firmado com a Argentina.
 
No encerramento do discurso, FHC voltou-se aos magistrados da Esmaf para concluir que, entre todas as mudanças e perspectivas apresentadas, o mais importante é a preocupação em “como se vai conciliar o universal com o particular".
 
Após a palestra, o presidente do Tribunal, Olindo Menezes, entregou ao novo professor emérito da Esmaf o diploma e a medalha de visitante ilustre da Corte.
 
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