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Justiça Federal inicia projeto piloto do AGROJEF no interior de Mato Grosso

publicado 02/08/2012 12h00, última modificação 11/06/2015 17h12


 
Em cerca de 15 minutos, centenas de moradores do remoto município de Ipiranga do Norte, em Mato Grosso, deram o primeiro passo rumo à solução de problemas agrários, ambientais e previdenciários que se arrastavam por anos. Nesta terça e quarta-feira, dias 31 de julho e primeiro de agosto, a Justiça Federal deslocou-se à região, a 480 km da capital Cuiabá, para dar início à fase de atermação do projeto piloto do AGROJEF: uma iniciativa inédita voltada à regularização previdenciária e agrária de assentados rurais do Incra, no âmbito dos Juizados Especiais Federais (JEFs).

Os dois dias de trabalho resultaram em mais de 150 atendimentos e cerca de 120 atermações (números parciais), realizadas no ginásio municipal de Ipiranga do Norte. Foi a oportunidade, para dezenas de jurisdicionados, de ter o primeiro contato com a Justiça Federal e a possibilidade de ingressar com ações judiciais em causas de pequeno valor. “É um olhar do estado para eles. A gente percebe que eles têm pouca informação sobre o funcionamento da regularização de uma área rural”, afirmou a diretora da Subseção Judiciária de Diamantino/MT, juíza federal Vanessa Curti Perenha Gasques, responsável pela idealização e coordenação do AGROJEF.

Nos últimos meses, a magistrada envidou esforços e costurou parcerias que tornaram possível a concretização do projeto. Aproveitou-se do JEF itinerante, em curso no município de Nova Mutum, a 260 km de Cuiabá, para “estender” a ação até a região mais ao norte do estado. Para tanto, contou com a participação de três servidores da subseção de Diamantino, de dois oficiais de justiça de Cuiabá e dois peritos do INSS, além de uma força tarefa composta pelo Incra, Ibama, Exército e Polícia Federal. Também obteve apoio da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e da Prefeitura de Ipiranga do Norte. “É um projeto muito bem elaborado [...] e fundamental para o município, que foi criado, essencialmente, de assentamentos da reforma agrária”, declarou o prefeito Orlei José Grasseli.

O AGROJEF desloca-se, nesta quinta-feira, dia 2, para a região de Tapurá, segundo município atendido pelo projeto piloto, onde conclui a fase de atermação. Das últimas 48 horas, as equipes distribuídas em sete veículos levam a lembrança de personagens e histórias da vida sofrida no campo, que agora figuram em processos judiciais. É o caso da dona de casa Vilma de Souza, 46 anos. Ela protocolou hoje a ação na Justiça Federal, na esperança de conseguir um dos 44 lotes do assentamento Santa Irene, a 40 km de Ipiranga do Norte. Lá, pretende plantar e garantir o sustento da família. Casada e mãe de três filhos, dona Vilma morou a vida toda na região de Ipiranga do Norte, e acompanha a labuta diária do marido na extração de raízes que impedem o plantio da soja, principal motor da economia local.

Nas pernas, movimentadas com a ajuda de muletas, a dona de casa leva marcas de décadas de trabalho árduo na extração de látex das seringueiras, que resultaram em sérios problemas motores e um desvio na coluna. Sobrevive com os cerca de R$ 700 por mês do trabalho na lavoura. Após fazer a atermação, a juíza federal Vanessa Curti e um servidor do Incra foram ao local e constataram: a terra que a família pleiteia, ao lado do lote que ocupam há três anos, está improdutiva. Por isso, o atual proprietário pode perder o direito à reforma agrária. “Meu sonho é ter uma terra para eu morar com meus filhos. Já sofri demais em terra dos outros”, desabafou Vilma.

O processo da dona de casa e todos os demais atermados em Ipiranga do Norte e que serão formulados em Tapurá (Tapurah), serão alvo da terceira fase do AGROJEF, a de audiências, marcada para ocorrer entre os dias 24 e 28 de setembro.

Os dois municípios foram escolhidos como ponto de partida do projeto devido à grande concentração de assentamentos rurais – sete apenas em Ipiranga do Norte, com 598 famílias assentadas –, e à proximidade com a Subseção Judiciária de Diamantino. A expectativa da coordenadora do AGROJEF é que a ideia seja difundida em toda a Primeira Região e, posteriormente, nas demais regiões da Justiça Federal. “São demandas próprias do interior e que precisam ser vistas com mais atenção pelo Judiciário”, finalizou Vanessa Curti.

Fonte: TRF1